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2 de setembro de 2014

Poema: Traduzir-se

   Traduzir-se  
                                     
 Uma parte de mim
 é todo mundo:
 outra parte é ninguém:
 fundo sem fundo. 

 Uma parte de mim
 é multidão
 outras parte estranheza 
 e solidão.

 Uma parte de mim
 pesa, pondera:
 outra parte 
 delira.

 Uma parte de mim
 almoça e janta:
 outra parte
 se espanta.

 Uma parte de mim
 é permanente:
 outra parte
 se sabe de repente.

 Uma parte de mim
 é só vertigem:
 outra parte,
 linguagem.

 Traduzir uma parte
 na outra parte
 - que é uma questão
          de vida ou morte-
          será arte ?

Ferreira Gullar




 
 
 

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